Imagine caminhar em um dia ensolarado e enxergar apenas vultos, ou perceber o mundo ao seu redor como se estivesse olhando por um canudo. Agora, imagine não ver nada. Esses são alguns exemplos de como a deficiência visual pode se manifestar, mostrando que ela é muito mais diversa do que se imagina.

A ideia de que todas as pessoas com deficiência visual são completamente cegas é um mito comum, e neste artigo vamos explorar os diferentes tipos de deficiência visual, como eles impactam a vida das pessoas e como podemos contribuir para um mundo mais inclusivo. A consciência e o conhecimento sobre o tema são essenciais para criar um ambiente mais justo e acessível para todos.

O que é deficiência visual?

A deficiência visual é uma condição que afeta a capacidade de enxergar, mesmo com o uso de óculos ou lentes corretivas. Dentro dessa condição, existem variações importantes que influenciam a forma como as pessoas experimentam o mundo:

• Cegueira total: é a ausência completa da visão. Pessoas com cegueira total dependem de outros sentidos, como audição e tato, para interagir com o mundo. Exemplos incluem o uso de dispositivos como bengalas ou cães-guia, que são fundamentais para a autonomia. Segundo o IBGE, cerca de 500 mil brasileiros são totalmente cegos, representando uma parcela significativa dentro do universo de pessoas com deficiência visual.
• Baixa visão: inclui casos em que a visão é limitada, mas ainda existe. Exemplos incluem dificuldade para reconhecer rostos ou ler mesmo com lentes corretivas. É comum que essas pessoas utilizem lupas ou dispositivos eletrônicos para auxiliar. Aproximadamente 6 milhões de brasileiros possuem baixa visão, enfrentando esses desafios diários.
• Perda de visão periférica: quando a pessoa enxerga apenas o centro do campo visual, como através de um buraco pequeno. Essa condição torna desafiador perceber objetos ou perigos nas laterais.
• Perda de visão central: afeta a área central da visão, tornando difícil, por exemplo, ler ou reconhecer rostos. Pessoas com essa condição geralmente dependem mais da visão periférica.
• Sensibilidade à luz: algumas pessoas enfrentam dor ou dificuldade em ambientes muito iluminados, necessitando de óculos escuros ou outros recursos. Essa condição pode ser agravada em dias ensolarados ou em espaços com iluminação artificial intensa.

Dados do IBGE também revelam que a prevalência da deficiência visual aumenta com a idade, sendo mais comum entre idosos devido a condições degenerativas associadas ao envelhecimento. Além disso, é mais frequente entre mulheres (4,0%) do que entre homens (2,7%).

Essas categorias mostram como a experiência visual pode ser variada, o que torna fundamental entender as nuances e evitar generalizações.

Causas da deficiência visual

A deficiência visual pode ter várias causas, que incluem condições congênitas, doenças adquiridas e fatores externos. Conhecer essas causas é essencial para prevenção e tratamento:

• Condições congênitas: algumas pessoas nascem com deficiência visual devido a problemas genéticos ou malformações durante o desenvolvimento. Exemplos incluem a retinose pigmentar e a catarata congênita.
• Doenças crônicas: glaucoma, diabetes e degenerescência macular são causas comuns de perda de visão em adultos e idosos. Esses problemas frequentemente evoluem de forma silenciosa, tornando o acompanhamento médico essencial.
• Infecções: algumas infecções, como toxoplasmose e conjuntivite neonatal, podem causar danos permanentes à visão se não tratadas adequadamente.
• Traumas: acidentes que afetam os olhos, ou a região ao redor, podem resultar em perda parcial ou total da visão. Uso de equipamentos de proteção em atividades de risco é fundamental.
• Deficiência nutricional: a falta de vitamina A é uma das principais causas de cegueira evitável, especialmente em países em desenvolvimento.
• Envelhecimento: o processo natural de envelhecimento pode levar a condições como a presbiopia e a catarata, que afetam a visão em graus variados.

A prevenção e o tratamento precoce podem evitar grande parte dos casos de deficiência visual. Consultas regulares ao oftalmologista, uma dieta equilibrada e o uso adequado de proteção ocular em situações de risco são medidas fundamentais.

Como a deficiência visual impacta a vida cotidiana?

A deficiência visual não é apenas uma questão de não enxergar; é uma experiência que afeta várias áreas da vida, exigindo adaptações constantes para superar os desafios:

1. Autonomia e acessibilidade

Imagine depender de um transporte público que não oferece informações em áudio ou de um aplicativo que não é acessível. Esses desafios são comuns para muitas pessoas com deficiência visual. Tecnologias como leitores de tela e bengalas eletrônicas ajudam a ampliar a autonomia, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Recentemente, avanços como os óculos inteligentes têm oferecido soluções inovadoras, mas seu alto custo é uma barreira para muitos.

2. Interação social

O desconhecimento da população é uma barreira significativa. Frases como “Você consegue ver algo?” ou atitudes paternalistas podem criar desconforto. Histórias como a de Ana, que perdeu a visão aos 20 anos e encontrou apoio em sua comunidade, mostram a importância de empatia e informação. Ana hoje participa de grupos de apoio onde compartilha suas experiências e inspira outras pessoas a superarem desafios semelhantes.

3. Mercado de trabalho

A inclusão laboral é outro desafio. Muitas empresas ainda não sabem como adaptar suas vagas para pessoas com deficiência visual. A falta de conhecimento sobre tecnologias assistivas e adaptações simples impede muitos profissionais qualificados de demonstrarem seu potencial.

Por outro lado, exemplos de profissionais que superaram essas barreiras, como José, um analista de sistemas que utiliza softwares de leitura de tela, inspiram mudanças positivas e promovem a diversificação no ambiente corporativo.

Como reconhecer e apoiar?

1. Boas práticas no dia a dia

• Pergunte antes de ajudar: “Posso lhe oferecer assistência?” A autonomia é um aspecto essencial para muitas pessoas com deficiência visual.
• Use descrições claras em ambientes sociais: “Há um degrau à sua frente.” Pequenos gestos como esses podem evitar situações desconfortáveis ou até perigosas.
• Torne espaços acessíveis: com sinalizações em braille e áudio. A inclusão começa com o planejamento de ambientes que acolham a todos.

2. Conscientização no ambiente escolar e profissional

Educadores e empregadores podem investir em capacitação e tecnologias assistivas para promover a inclusão. Adotar práticas simples, como evitar materiais exclusivamente visuais, faz toda a diferença. Além disso, promover treinamentos sobre diversidade e inclusão ajuda a criar um ambiente mais acolhedor para todos os colaboradores.

A importância da conscientização

Campanhas de conscientização têm o poder de transformar. Você sabia que a maioria dos casos de cegueira podem ser prevenidos com cuidados oftalmológicos regulares?

Além disso, iniciativas como as promovidas pela APACE ajudam não apenas a prevenir, mas também a reabilitar e integrar pessoas com deficiência visual na sociedade. Por exemplo, projetos que promovem o ensino de tecnologia assistiva e esportes adaptados têm mostrado como a inclusão pode ser ampla e impactante.

Conclusão

A diversidade da deficiência visual nos lembra que enxergar é uma experiência única para cada pessoa. Ao promovermos a inclusão, não apenas ajudamos pessoas com deficiência visual a viverem com mais autonomia, mas também construímos uma sociedade mais empática e justa. Cada passo em direção a um mundo mais acessível é uma oportunidade de transformar vidas e fortalecer comunidades.

Então, que tal refletir: como você pode contribuir para tornar o mundo mais acessível hoje? Pequenas ações, como compartilhar este conhecimento ou apoiar iniciativas inclusivas, podem gerar um impacto duradouro.